Archive for the ‘sátira’ Category
aos e às do costume
há uma cambada de apoucadores, profetas de uma moralidade requentada, filhos de uma solenidade catedral, queimando incenso e entoando glórias prenhas por estigmas da estupidez, uma autêntica moléstia de criaturinhas infectadas de larval flatulência cerebral. dizem-se poetas, operários, quiçá patetas revolucionários. mas não passam de nojentos salafrários, incubadores da bisbórria, parturientes e defensores da escrita medíocre, predestinados a difundir pela via anal, tal doença eivada de crucifixos manhosos, que nada têm a haver com deuses ou religião.
mas amam, amam muito, amam muito a bajulação!, são detentores de um amor carregadinho de mulas e dinossauros, e de uma fauna subterrânea que a ciência ainda não conseguiu identificar.
são estes e estas sacanas; que me desmoronam o peito, que me apedrejam a mente, que me sufocam a inteligência, que me violam a vergonha pelo método do estrago súbito. uns e outras, prometem-me amizade eterna, prometem-me o reconhecimento da minha coerência, mas; quando decido seguir o meu caminho – escarram-me – tratam-me como um leproso.
estado d’sítio
o governo não governa, a oposição manda bocas, a comunicação social lavra gordas parangonas, os politólogos e comentadeiros facturam à brava, os subsidio-dependentes protestam pelos cortes e, os que trabalham a sério estão cada vez mais trabalhados a sério – é um autêntico estado d’sítio.
outrora; o mar cheirava a maresia
outrora; Vasco da Gama e seus pares fizeram uso de caravelas para irem em busca de ouro e especiarias. hoje; estes sacanas afundam-nos com submarinos, levam-nos os anéis e os dedos, porque o ouro há muito que sumiu. outrora; o mar cheirava a maresia, hoje cheira a gatunagem.
seriamente e a sério
há ladrões que o são seriamente e a sério, tão seriamente e a sério, que nem – a justiça? – ousa colocar em causa a sua honestidade. é neste terno e doce humanismo; que os que são honestos seriamente e a sério, empobrecem seriamente todos os dias e a sério.
quem lhe desse uma pancadinha carinhosa no toutiço
dói-me o meu próprio embaraço, sempre que apalpo o meu desconforto intuitivo. a maior parte do tempo apetece-me encerrar; antes que esvazie a destempo as minhas prateleiras da lucidez. embora não duvide que ainda estou lúcido e capaz de enfrentar toda e qualquer coisa em forma de gente e, apesar de em tempos um ignóbil habitante de Jericó, se ter deslocado à beira do rio com o firme propósito de me surrar até à medula dos ossos, a verdade é que todo ele se me parece doente de morte. tomba e rola, tomba e rola; desmorona!, apresenta sinais de musgo, fungos e, onde outrora já exibiu penachos, surgem um pouco por todo ele crostas de pura demência. quem lhe desse uma pancadinha carinhosa no toutiço, repito; carinhosa, que não sou fã de violência, nem quero que a vã criatura afanique aparatosamente. desejo-lhe acima de tudo uma comoção com estilo e a gosto. e, que; quando chegar a sua hora, venha o anjinho da carroça nocturna e o leve em bem…